Henrique Avancini na Factor Racing: Qual efeito para o Ciclismo Brasileiro?

Após meses de especulações, Henrique Avancini, o maior nome do mountain bike brasileiro, foi oficialmente anunciado como integrante da equipe Factor Racing para competir no ciclismo de estrada. Acredito que esta transição marca não apenas uma nova fase na carreira do atleta, mas também representa uma possível revitalização para o ciclismo brasileiro, que tem enfrentado desafios para manter sua relevância. Este movimento soma-se a alguns pequenos movimentos que tem acontecido no ciclismo de estrada brasileiro, como outros atletas em grandes equipe européias e a um outro que chamou bastante atenção que foi a compra da equipe Swift Pro Cycling por uma a agência de marketing esportivo, a Heatmap .

A Nova Jornada de Avancini no Ciclismo de Estrada

O anúncio da Factor Bikes oficializa a entrada de Henrique Avancini na equipe de fábrica Factor Racing, que possui o status de equipe UCI Continental. Para Avancini, esta mudança representa a realização de um sonho de infância, após encerrar sua carreira no mountain bike no final de 2023 com a conquista do seu segundo título mundial de MTB Marathon.

“Em 2024, comecei a pensar seriamente em correr na estrada”, explicou Avancini em seu anúncio oficial. “Quando criança, eu sonhava em correr o Tour, o Giro, a Vuelta. Quando me senti revigorado mental e fisicamente, comecei realmente a aproveitar o que conquistei como mountain biker e a pensar seriamente em dar esse presente a mim mesmo, esse objetivo de tentar realizar meu sonho de infância. Esta declaração revela não apenas a motivação pessoal do atleta, mas também sua visão de continuar evoluindo mesmo após alcançar o topo em sua modalidade MTB, em disciplinas diferente XCM, XCO e XCC.

A transição ocorre após um período de reflexão, no qual o atleta teve tempo para avaliar suas conquistas e planejar seus próximos passos no esporte.

A conexão com a Factor parece ter sido imediata e mutuamente benéfica. “Quando conheci a Factor, por algum motivo, eles ficaram muito animados com o projeto”, confidenciou o brasileiro. “Senti desde as primeiras reuniões que esse era o grupo certo de pessoas para tentar isso. E, ganhando ou perdendo, ainda parece algo ótimo de se fazer.”  

Uma Estrutura para o Sucesso

A Factor Racing não é apenas uma equipe de competição, mas um projeto de fábrica voltado ao desenvolvimento de atletas e produtos. Esta abordagem integrada permitirá que Avancini tenha acesso a tecnologias de ponta enquanto a marca se beneficia de seu feedback para aprimorar seus produtos para competidores de alto nível. A equipe será liderada pelo neozelandês Paul Wright, 26 anos, campeão nacional de estrada de seu país, e contará com diversos ciclistas da categoria Sub 23, consolidando seu compromisso com o desenvolvimento de talentos.

Esta estrutura profissional será fundamental para a adaptação de Avancini ao ciclismo de estrada após mais de uma década dedicada ao mountain bike. O desafio de transitar entre modalidades tão distintas em termos técnicos e físicos não é pequeno, mas a experiência acumulada por Avancini em competições internacionais do mais alto nível certamente será um diferencial importante nesta nova fase.

O Legado de Avancini no Mountain Bike Brasileiro

Acredito que isso trará benefício para o ciclismo de estrada brasileiro, através do Efeito Avancini. Para compreender o potencial impacto desta mudança no ciclismo de estrada brasileiro, é necessário contextualizar a trajetória de Henrique Avancini até este momento. Antes de anunciar sua transição para o ciclismo de estrada, Avancini construiu uma carreira sem precedentes no mountain bike brasileiro, tornando-se o primeiro atleta do país a atingir o topo do ranking mundial da modalidade, além de conquistar vitórias em etapas da Copa do Mundo e dois títulos mundiais de MTB Marathon

O impacto de suas conquistas transcendeu os resultados esportivos, criando o que veio a ser conhecido como “Efeito Avancini”, tema de uma série documental lançada em 2022 que explorou sua jornada desde um menino de Petrópolis até se tornar o maior nome do mountain bike nacional. Este “efeito” se traduziu na formação de uma comunidade de seguidores, no aumento da visibilidade do esporte e na realização de eventos internacionais no Brasil, como a etapa da Copa do Mundo em sua cidade natal, duas etapas em 2024, que vai se repetir em 2025.

Em 2023, Avancini havia dado mais um passo importante para o desenvolvimento do ciclismo nacional ao criar uma equipe 100% brasileira, com base no Brasil e estrutura na Europa para competições internacionais. Este projeto “audacioso” demonstra seu compromisso em deixar um legado para as próximas gerações. Paralelamente, sua equipe Caloi Henrique Avancini Racing continua ativa em 2025, agora com Ulan Galinski, Sabrina Oliveira (que passou da categoria Sub-23 para Elite) e o novato Eiki Leoncio na categoria Sub-23, mantendo sua contribuição para o mountain bike brasileiro mesmo enquanto ele pessoalmente transita para o ciclismo de estrada.

Potencial Impacto na Revitalização do Ciclismo Brasileiro

O movimento de Avancini em direção ao ciclismo de estrada não é um caso isolado, mas parte de uma tendência mais ampla que indica um possível renascimento desta modalidade no Brasil. Outros desenvolvimentos recentes reforçam esta perspectiva e sugerem que o ciclismo de estrada brasileiro pode estar entrando em uma nova era de crescimento e profissionalização.

Henrique Bravo na Soudal Quick-Step: Uma Nova Estrela em Ascensão

Em novembro de 2024, o mineiro Henrique Bravo, que competia no mountain bike pela Specialized BR, assinou contrato com a Soudal Quick-Step Devo Team, equipe de desenvolvimento da renomada Soudal Quick-Step para atletas sub-23 no ciclismo de estrada.

O contrato de dois anos com a equipe belga oferece a Bravo a possibilidade de ascender ao time profissional a qualquer momento, proporcionando-lhe a oportunidade de pedalar ao lado de grandes nomes como o campeão mundial e olímpico Remco Evenepoel. Este desenvolvimento é particularmente significativo porque a Soudal Quick-Step é uma das equipes mais prestigiosas do World Tour, o mais alto nível do ciclismo mundial. Bravo estabelecerá sua base em Girona, Espanha, um verdadeiro “paraíso para pedalar”, conforme suas próprias palavras, e já está prevista sua participação em importantes competições como o Baby Giro, versão sub-23 do Giro d’Italia.

Tota Magalhães na Movistar: Representação Feminina no World Tour

Em setembro de 2024, Ana Vitória ‘Tota’ Magalhães, ciclista carioca de 23 anos, deu um passo histórico ao assinar contrato com a Movistar Team até o final de 2026. Esta transferência garantiu a continuidade da representação brasileira no mais alto nível do ciclismo mundial, agora na versão feminina, o UCI Women’s WorldTour.

Antes de ingressar na Movistar, Tota já havia construído uma trajetória sólida no ciclismo europeu.  Campeã brasileira de estrada em 2023 e de contrarrelógio em 2024, Tota já havia competido em importantes provas do World Tour como Flecha Valona, Strade Bianche, Nieuwsblad e Burgos.

A transferência para a Movistar, uma das principais equipes do mundo, representa não apenas uma conquista pessoal para Tota, mas também um avanço significativo para o ciclismo feminino brasileiro. “É mais um sonho que se torna realidade para mim, e, além disso, chego ao mais alto nível com a Movistar Team, uma equipe pela qual sempre tive um carinho muito especial”, declarou a ciclista. Esta mudança alinha-se perfeitamente com suas ambições, incluindo a possibilidade de um pódio olímpico em Los Angeles 2028.

Swift Pro Cycling: Profissionalização do Ciclismo como Negócio

Em janeiro de 2025, o cenário do ciclismo brasileiro recebeu outro impulso significativo com a aquisição da Swift Carbon Pro Cycling Brasil pela agência Heatmap, especializada em conectar marcas nos mercados esportivo e de entretenimento. A equipe, que iniciou suas atividades em 2021 com apenas cinco atletas, transformou-se em uma das principais equipes profissionais de ciclismo de estrada e de pista da América Latina.

Heatmap Adquire a Swift Pro Cycling

Este movimento de aquisição representa uma nova abordagem para o ciclismo brasileiro, tratando-o como um negócio com potencial de crescimento e não apenas como uma atividade esportiva. A gestão da equipe passou para a RPM Sports, empresa criada pela Heatmap especificamente para se especializar em ciclismo. 

A S2 Indústria da Bicicleta, antiga gestora da equipe, continuará ligada ao projeto, fornecendo bicicletas da marca Sense e infraestrutura de ponta pelos próximos cinco anos, com opção de renovação por igual período. A equipe já se prepara para dezenas de competições ao longo de 2025, incluindo o Campeonato Brasileiro e o Tour do Rio, além de provas em países como Argentina, Portugal, Chile e Uruguai.

Desafios e Perspectivas

A jornada de Avancini no ciclismo de estrada não estará isenta de desafios. A adaptação a uma nova modalidade, especialmente em uma fase mais madura da carreira, demandará resiliência e capacidade de aprendizado. Avancini já demonstrou estas qualidades ao longo de sua trajetória, como revelado em seu documentário, onde abordou abertamente dificuldades pessoais, incluindo períodos de depressão e contratempos físicos como infecções pulmonares e fraturas.

O ciclista também enfrentará a expectativa inevitável de comparação entre seus resultados no mountain bike e seu desempenho na estrada. No entanto, sua perspectiva madura sobre o esporte sugere que está preparado para este novo capítulo: “E, ganhando ou perdendo, ainda parece algo ótimo de se fazer”, afirmou sobre sua decisão de juntar-se à Factor Racing. 

Conclusão

A entrada de Henrique Avancini na equipe Factor Racing representa muito mais que uma simples mudança de modalidade para um atleta consagrado. Este movimento simboliza uma possível revitalização para o ciclismo brasileiro, especialmente na modalidade de estrada, abrindo caminho para maior reconhecimento internacional e inspirando novas gerações de ciclistas no país. O “Efeito Avancini”, que já transformou o mountain bike nacional, agora tem a oportunidade de expandir sua influência para novos horizontes.

A trajetória de Avancini, desde um jovem ciclista de Petrópolis até campeão mundial e agora competidor de ciclismo de estrada em uma equipe internacional, demonstra as possibilidades que se abrem quando talento, determinação e apoio estrutural se combinam. Seu exemplo desafia percepções estabelecidas sobre os limites do ciclismo brasileiro e oferece um novo modelo de sucesso para atletas nacionais.

O ciclismo brasileiro, que tem enfrentado desafios para manter-se relevante no cenário internacional, recebe com esta transição não apenas um representante de alto nível em uma nova modalidade, mas também uma narrativa inspiradora de reinvenção e perseverança. O legado de Avancini continua a se expandir, criando ondas que podem beneficiar o esporte nacional por gerações, tanto no mountain bike quanto agora no ciclismo de estrada.

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