Strava Processa a Garmin

A Strava, o app queridinho de milhões de ciclistas, acabou de processar a Garmin, uma das gigantes dos dispositivos de fitness. O motivo? Alegadas violações de patentes relacionadas a segmentos e heatmaps. E o pedido é pesado: a Strava quer que a Garmin pare de vender praticamente todos os seus computadores de ciclismo e relógios.

Já falei muito de Garmin no canal do YouTube, algumas matérias aqui, e sei que muitos usam Garmin, e poderá ser afetado por tudo isso.

O Que Aconteceu? Um Resumo da Ação Judicial

No final de setembro de 2025, a Strava entrou com uma ação na corte federal dos EUA contra a Garmin, alegando infração em duas patentes principais: uma sobre “segmentos” (aqueles trechos competitivos onde você disputa KOMs) e outra sobre “heatmaps” (mapas de calor que mostram rotas populares baseadas em dados de usuários). Além disso, a Strava acusa a Garmin de violar um acordo de cooperação de 2015, o Master Cooperation Agreement (MCA), que permitia a integração de segmentos ao vivo nos dispositivos Garmin.

A Strava pede não só indenizações financeiras, mas também uma liminar para que a Garmin pare de vender dispositivos como os ciclocomputadores Edge e os relógios Forerunner, Fenix, Epix, basicamente, tudo que tem funcionalidades de segmentos ou heatmaps. Eles alegam perdas em receita, oportunidades de negócio e erosão de sua vantagem competitiva.

Mas por que agora, depois de uma década de parceria? Vamos aos fatos, com base em pesquisas sobre as patentes e o histórico.

As Patentes em Questão: Datas e Coerência

Rapidamente sobre as patentes, apenas para contextualizar

Patente de Heatmaps (Mapas de Calor)

  • “Generating user preference activity maps” (Geração de mapas de preferência de atividades de usuários).
  • Data de Depósito Inicial: 15 de dezembro de 2014.
  • Data de Concessão: 29 de março de 2016.

Essas patentes descrevem a geração de mapas que agregam dados de GPS de múltiplos usuários para mostrar rotas populares e sugerir caminhos entre pontos A e B. As datas são coerentes com o que a Strava alega no processo: eles patentearam o conceito após implementá-lo.

Patentes de Segmentos

  • “Defining and matching segments” (Definição e correspondência de segmentos).
  • Data de Depósito Inicial: 31 de março de 2011.
  • Data de Concessão: 25 de agosto de 2015.

Essa patente cobre a criação do segmentos, o que deixou Strava muito famoso, e que adoramos. Faz comparação de tempo e apresenta o lista com os líderes. A Strava existia desde 2009 e só patenteou dois anos depois.

Há um grande debate que é sobre “prior art” (arte anterior): ideias semelhantes já existiam antes?

Quem Começou a Usar Essas Funções Primeiro?

Acredito que uso Garmin desde inicio dos anos 2000. Lembro do meu Forerunner 101 e depois do Forerunner 305. Na época a grande rivalidade era com a Polar, que liderava os relógios que marcavam frenquencia cardíaca, e quando a Garmin chegou com seus aparelhos com GPS, a Polar lançou um aparelho que eu tive, que tinha um GPS como acessório, e conectava com o relógio. Era o RCX5.
Também usuário do Strava há muito tempo. Assinante sou desde 2013. Enfim, acompanhei parte desta história, e vi muitas funções aparecendo e evoluindo.

Heatmaps

Quanto ao Heatsmaps, de acordo com anúncios históricos a Garmin lançou heatmaps no Garmin Connect no início de 2013. Há até um site do NYT de junho de 2013 usando dados de heatmaps da Garmin que ainda funciona!

A Strava introduziu heatmaps pessoais (apenas dos seus próprios dados) em setembro de 2013. Heatmaps globais (agregando dados de todos) vieram depois, e a patente só foi depositada em dezembro de 2014, mais de um ano após a Garmin já usar o conceito.

Heatsmaps é algo feito por outros aplicativos, inclusive lia dos dados do Strava e apresentava em suas plataformas. Isso antes do Strava implementar. Enfim, heatmaps não é uma invenção da Strava, e a patente pode ser questionada por “prior art” ou obviedade.

Segmentos

Quanto a segmentos, inquestionavelmente foi a Strava quem popularizou, e acredito que esteja presente desde seu lançamento em 2009. Esta função de os próprios usuários criar trechos competitivos onde toda a comunidade ver como está dentro da lista de lideres. A patente dos segmentos foi pedida em 2011.

Eu eu comecei a usar os ciclocomputadores Edge da Garmin, em 2014, ela já tinha seus próprios “Garmin Segments”, com o Edge 1000, incluindo também as lista de líderes no Garmin Connect. Mas, nao era popular, e todo mundo queria os segmentos da Strava. Em 2015 os segmentos do Strava aparecia nos Edges da Garmin (já vou falar desta parceria). Eu mantenho minha assinatura do Strava principalmente por isso.

Enfim, quanto ao segmento, a Strava inventou e Garmin copiou em 2014. Para heatmaps, concluo que Garmin foi pioneira, o que enfraquece a alegação da Strava.

O Histórico de Parcerias entre Strava e Garmin

O que achei estranho desta ação é que as duas empresas são parceiras próximas por mais de uma década. A Garmin sempre foi o maior “fornecedor” de dados para a Strava: a maioria dos usuários pagantes da Strava usa dispositivos Garmin para sincronizar atividades.

Com já adiante, em 2014, a Garmin lançou seus segmentos, mas eles floparam. Em abril de 2015, assinaram um acordo, permitindo que a Garmin integrasse “Strava Live Segments” em dispositivos. Eu tive o primeiro dispositivo da Garmin com esta função que foi o o Edge 520. E isso exigia a assinatura da Strava e beneficiou ambos: Garmin ganhava funções melhores, destacando dos concorrentes e a Strava ganhava usuários.

Importante, segmento ao vivo só funciona se for assinante do Strava. Esta função no Garmin é muito deseja que esteja em outros dispositivos. Há outras marcas que incorporaram esta função de segmento do Strava. O melhor que usei foi o Hammerhead. Marcas com IGPSPORT lançou segmento ao vivo nos seus aparelhos, desde o IGS630S, porém fez como no início desta função no Garmin, lá de 2015. Só funciona na propria plataforma.

Há boatos que Garmin considerou comprar a Strava, mas optou pela parceria. Já foi apresentar dados de que a Garmin tem poder financeiro econômico para uma aquisição da Strava. Usuários Garmin representavam a maioria dos pagantes da Strava. Outra sincronia de dados que gosto muito desta parceria é a facilidade de sincronização de rotas. A sincronia de atividades é comum na maioria das marcas.

Acredito que esta treta começou a escalada em 2024, quando a Strava apertou regras de API, forçando diversos parceiros, como TrailForks, a deletar dados. A propósito, a TrailForks confirma a cultura da Garmin em fazer parceria. Um dos diferencias dos atuais aparelhos Garmin, desde a linha X30, sao os mapas TrailForks, o que permite a excelente função ForkSight. Voltando, quando a Strava apertou as regras de API, a Garmin foi poupada, mas este movimento já tornou as coisas instáveis, então a Garmin mostrou irritação com o uso de dados para IA pela Strava então exigiu que a atribuição. Em julho de 2025, a Garmin anunciou novas regras de API com atribuição obrigatória, exigindo que fosse indicado algo como “Dados fornecidos pela Garmin”. Acreditam que foi isso que acendeu o pavio.

Uma nova Strava, pois se prepara para abrir capital na Bolsa

Eu nao entendi se este ação da Strava com o principal parceira tem ligação com a noticia que começou a circular recentemente. De acordo com reportagens da Reuters, Cyclingnews, entre outras, a Strava está se preparando para um IPO, que é abrir o capital na Bolsa de Valores. De acordo com últimos investimentos privados na Strava em maio de 2025, ela foi avaliada em US$ 2.2 bilhões, e agora a empresa mira levantar capital no mercado de ações, e isso muda muita coisas. Os gestores nao irão se preocupar apenas com os propósitos dos fundadores e com os interesse de poucos investidores. Ao começar a ser negociada no mercado de renda variável da Bolsa de Valores, a pressão será maior, terá que mostrar resultados financeiros reais e muita PROMESSA de resultados. Mas eu não entendi como esta açao contra a Garmin se encaixa com neste contexto.

Desde que o novo CEO, Mike Martin, que foi nomeado em 2024, a Strava tem sido mais agressiva: aquisições como as recentes da Runna e Breakaway, novas funcionalidades de IA e políticas rígidas. Como são muitos movimentos, e aparentemente tudo convergindo para um IPO, talvez a ação judicial seja mais um deles. Mas para mim é estranho processar um parceiro chave como a Garmin. Minha visão empresaria não alcançou este entendimento, pois para mim isso é um grande risco.

Quem é Maior: Strava ou Garmin?

Fiquei curioso e quis entender o tamanho de ambas. Encontrei algumas informações, que pode ter algumas inconsistência.
A Strava é uma empresa Privada, com mais de uma centena de milhões de usuários registrados, com 2 milhões novos por mês. Este é o grande ativo da Strava, sua comunidade, e parte deste mérito é trabalho de uma brasileira, a Rosana Fortes, a Country Lead do Brasil e Indonésia. O Brasil tem a segunda maior base de usuários. Fontes indica 21 milhões de usuários. Isso é muito, quase 1 brasileiros de cada 10. Isso mesmo?

Não conseguir informações consistente sobre a receita. Há números que dizem US$ 275 milhões em 2023, outros US$ 163 milhões em 2024. mas há informações consistentes sobre a quantidade de funcionários, 430, e o quanto foi avaliada, US$ 2.2 bilhões.

Nestas disputas, e na análise desde jogo coorportativo, o tamanho da empresa tem relevância. A Garmin é uma empresa pública, negociada na NASDAQ sob o ticket GRMN, e segundo o site Investidor10.com tem um valor de mercado de $ 49 bilhões, receita anual de quase 7 bilhões anuais. Sao 16.000 funcionários. A Garmin é líder em GPS e dispositivos, e sua atuação vai além do ciclismo e corrida. Aviação, Náutico e muito mais, muitos outros esportes também .

Quem vence, Davi ou Golias?

Análise: Quem Tem Mais a Perder?

Como eu disse, não entendi este movimento, e aqui é apenas palpite. Seria uma resenha pós pedal. Se a Garmin retaliar cortando a API, sincronização automática, a Strava perde uma fatia enorme de usuários pagantes, pois a Garmin é a fonte principal de dados premium. Com IPO no horizonte, uma perda de receita poderia afundar a valoração. Além disso, as patentes, especialmente heatmaps, parecem fracas, e a Garmin já entrou em muitas disputas de patentes, portanto muita experiencia.

Quanto a Garmin, eles podem remover funcionalidades como o segmento ao vivo, perder a função de rotas, percurso, automáticos nos aparelhos, etc. E isso tira uma diferencias, especialmente o segmento ao vivo. Garmin Segments e heatmaps existem há anos, mas não são centrais. Todos querem segmentos do Strava, e os heatsmaps do Strava sao mais completos, afinal, tem informaçoes de usuários de todas as marcas. Os Heatsmaps são essenciais para escolher os trechos na construção de rotas, por exemplo. E há a possibilidade da Garmin paga multa e continuar vendendo. Enfim, Garmin valoriza parcerias e acredito que não cortaria a sincronização para não irritar usuários.

No geral, Strava parece estar cutucando a onça com vara curta, uma jogada arriscada.

Conclusão: Uma Disputa que Pode Mudar o Jogo

Essa briga entre Strava e Garmin é tensa e imprevisível. Strava precisa se valorizar para o IPO, e entendo que arrisca ao entrar em rota de colisão com seu maior parceiro. Garmin, com sua solidez, tem muitas vantagens. Acredito que qualquer cenário será pior para nós ciclistas.

Recomendamos diversificar: use apps como Komoot para rotas, ou o próprio Garmin Connect para heatmaps. E fique de olho – o processo pode durar meses ou anos.

O que você acha? Vai afetar você? Você já conhece, usa outros aplicativos concorrente do Strava? Ou nao se importa, pois usa outra marca de ciclo computador? Qual ciclocomputador voce sua?
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Fontes: USPTO, Google Patents, Reuters, DC Rainmaker, Business of Apps, Investidor10 e análises de mercado de 2025.

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